terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MORTE, CULPA E LUTA


A tristeza de quem perde um familiar é grande. Perdi meu pai ainda pequena, com nove anos, perdi a minha avó (que morava comigo) a quase dois anos. Quando criança a sensação é de que alguém precisa entrar na sua cabeça e te ajudar a entender o que está acontecendo.

Chorei, chorei muito até, porque com a idade que eu tinha já entedia de uma certa forma o que era essa "morte", também me senti chateada quando vi meus primos por parte de pai correndo e dando risada no cemitério no aniversário de um ano de sua morte.

A frustração de não ter um pai pra dar os presentinhos preparados em agosto. Algo parecido com adrenalina quando me perguntavam a profissão doS meuS paiS. Ter de ir ao cemitério no dia dos finados era o que tinha de pior.

Já adulta, quando a minha avó teve 0 derrame, creio que o amadurecimento traz um auto controle invejavel (não que eu estivesse com o meu no ponto). Acompanhei a minha mãe segurando seu braço quando sentia suas pernas falharem, lembrei de dar de tempos em tempos algo pra que ela bebesse já que se recusava a comer, entrei no necrotério (nem sei se é este o nome do lugar) e vi o corpo já sem vida da vovó - e por incrível que pareça não me assustei, pelo contrário minhas mãos foram ao encontro das mãos dela e apertei bem forte. Em todo o tempo que ela esteve no hostital internada, fomos (a familia toda)visitá-la mesmo sabendo que estava em coma e que não podia nos ouvir, ao seu lado vi minha mãe orar, falar com ela na esperança de que pudesse escutar algo do que dizíamos. Definitivamente depois de sua morte criei uma aversão a hospitais que achei que não conseguiria vencer... até a semana passada...

Creio que o meu desabafo será entendido por alguns por completo e que já por outros não, mas não importa de verdade, pois mais do que expor a situação... é o meu coração que gostaria de compartilhar...

Na quita-feira da semana passada estive no hospital novamente e pensei que tudo estaria bem, mas no momento em que desci do taxi, senti minhas pernas tremerem e o meu coração acelerar rapidamente, me apresentei na recepção, subi o elevador, caminhei até o a frente do quarto e essa sensação desconfortável não desapareceu. Entrei cumprimentei os que estavam dentro do quarto, me sentei e orei... descobri que mesmo passando pela experiência de morte já adulta com a minha avó, essa experiência me deixou mais marcada do que podia imaginar.

Infelizmente a pessoa que fui acompanhar na quinta piorou e foi internada na UTI, ao receber a notícia meu coração deu um solavanco e a impressão que deu, foi que os meus órgãos se reviravam dentro de mim. Sei que pode parecer besteira, mas não puder deixar de lembrar de quando nós recebemos a notícia de que a minha avó estava na UTI.

Nos dias que decorreram estive acompanhando como podia. Mas meu coração não parava de se agitar, pois não conseguia deixar de fazer a comparações e esse fao me pesou muito. A senhora que estive acompanhando tem quase a mesma idade da minha mãe, na verdade era só um ano mais velha... e a minha mãe também não está nas melhores condiçõs de saúde.

Não sei e não saberei me expressar de forma melhor, por isso me perdoem, esta senhora se foi - foi levada na manhã de segunda. Ela foi muito querida, pois vi e escutei as lágrimas, os soluços e os lamentos de muitos. Com certeza nem todos de início tiveram um grande afeto por ela, mas creio que se desenvolveu no decorrer dos anos.

Me senti culpada, por não ter estado mais ao seu lado...

Me senti culpada, quando o meu pai morreu, culpada porque mesmo tão novinha desejei uma vez, mas mesmo assim foi um desejo, que ele morresse...

Me senti culpada, quando a minha avó morreu, porque lembrei que ela havia me pedido pra fazer algo simples e eu não fiz e porque no domingo em que teve o derrame e nunca mais abriu seus olhos, acordei tarde e não pude me despedir dela antes ir pra igreja...

"Depois da luta contra a morte, fica a luta contra a culpa...acusações que fazemos a nós mesmos, acusações que fazemos a outras pessoas e principalmente acusações contra Deus. Posso até afirmar que está luta é até mais difícil e longa do que a própria morte. Todos nós teremos de lutar contra a culpa usando o evangelho e certeza de que Deus realmente nos ama..." (frase dita em meio a um aconselhamento na tarde de segunda)

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